quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Depois dos 42...

"Se você quer correr, corra uma milha. Se você quer experimentar outra vida, corra uma maratona." 
(Emil Zatopeck)

Quando li isso a primeira vez, não entendi bem. O que poderia ter assim de tão mágico na clássica distância, que iria mudar minha vida.

Comecei a correr em 2009, e a Maratona não estava nos meus planos, queria simplesmente correr a São Silvestre, e talvez um pouco mais ou menos. Mas a evolução segue naturalmente, e depois dos 15, vem os 21,  os 25, os 30, e uma vontade de experimentar essa outra vida, da qual a Locomotiva Humana um dia falou.

A oportunidade veio justamente esse ano, em que completei 43 anos, ou seja, estava na hora de correr os 42, pelo menos na idade eu já havia ultrapassado esse número, e logo de cara experimentei duas vezes, em São Paulo e no Rio. Zatopeck tem razão, é outra vida. A começar pelo treinamento, niguém corre uma maratona assim, do nada. São pelo menos 3 meses de preparação específica, de mudança de hábitos, de treinos, alimentação e descanso. E na prova você passa por uma espécie de iniciação. Saber dosar o ritmo no começo, controlar a ansiedade, manter a mente concentrada na passagem, no momento, pois não é facil ao chegar na placa de 10k imaginar que ainda restam 32 a cumprir, assim como quando se chega na placa 32, aquele miseros 10km vão parecer intermináveis. As dores serão inevitáveis, e tudo pode acontecer, ali, naquele percurso de 42km você vai passar por sensações de uma vida inteira, vai nascer e morrer várias vezes, vai resistir, desistir e começar de novo, e sim, chegar ao final vai ser a uma realização sem igual, seja como for, não importa o tempo, seu estado físico, será uma sensação indescritível. Tanto é que ainda estou falando nela.

Minha 1ª corrida "oficial" depois da Maratona do Rio, 40 dias depois, foi oficialmente de 6k (na verdade só teve 5,3km), e sinceramente, não deu nem pra aquecer. Depois dos 42km, acho que qualquer distância abaixo de 20km parece incompleta. Não que eu esteja desdenhando das distâncias menores, sei o quanto é difícil correr seus 5km pela primeira vez, eu passei por isso, todos nós corredores passamos, estou sempre acompanhando e incentivando novos adeptos, e é gratificante ver quando conseguem superar a distância e claro que tem aqueles que gostam, são fãs dos 5km e 10km e se aprimoram nessas distâncias, baixam tempos, superam os limites, e estão satisfeitos e felizes. Cada qual tem a sua distância preferida. Poucos são como a Lenda Zatopeck, que foi mestre em todas, único atleta a conquistar o Ouro Olímpico nos 5k, 10k e na Maratona numa mesma Olimpiada, Helsink em 1952, e no ano seguinte venceu a nossa São Silvestre, que na época tinha 7,3km, com facilidade.

A satisfação de terminar a minha primeira Maratona
Nas próximas semanas vou correr 3 provas de 10k, e pretendo me superar nelas, quero baixar meu recorde "mundial" pessoal, mas a vontade mesmo era de correr sempre uma maratona, e conseguir chegar inteiro, sem dores (se é que isso é possível), e poder falar não que já completei a Maratona, mas que sou um Maratonista. Esse dia ainda vai chegar.

5 comentários:

  1. Valeu o incentivo, vou encarar a minha primeira maratona. Como disse Zatopeck, encontrar a minha outra vida, pois nessa eu já tenho experiencia de vida e morte, após operações cardíacas e infartos...rsrsrs. Agora é seguir sua experiencia e encarar 42k em Buenos Aires e depois o Desafio do Pateta em Janeiro de 2013. Parabéns Silvio pelo relato e incentivos ao outros atletas.

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  2. O máximo que eu corri por enquanto foram 20km, e eu quase "explodi" de tanta alegria!!! O que eu acho maravilhoso não é só a questão da superação que em si já é muito intensa, mas, são os sentimentos humanos que são visceralmente sentidos. As palavras deixam de serem apenas conceituais. Elas impregnam a nossa pele, nos lavam com o suor. Quando a gente corre, a gente se esvai, a gente some e vira uma coisa só com o ar que a gente respira, se funde com o céu que a gente enxerga. É uma fusão com o tempo, com a resignação, com a paciência, com a determinação, com a comoção, com a coragem e com outros tantos sentimentos e emoções. O pensamento humano se fortalece de tal forma, que a concentração transcende a qualquer cansaço. E a gente vai...se arrastando muitas vezes, com dores por quase todo o corpo, mas a gente vai. A coluna se encaixa nas pisadas, que se encaixa com a respiração, que se encaixa com os braços, e a gente vai e vai, e vai ATÉ O FIM. E aí...a gente Brilha. Brilha e sorri Feliz. Somos todos heróis de nós mesmos. E sentimos ipsi literis, como diz no Salmo 82:6 e João 10:34" - Vóis sois deuses.É o que todos nos tornamos.

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    1. Nossa amiga Vanda, que inspiração, que relato mais lindo, que palavras lindas ditas com todo sentimento !!!
      Meus parabéns!!
      Grande beijo !!!!

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  3. Correr 42 km é mesmo uma experiência fascinante, que tive a felicidade de desfrutar oito vezes, sem contar duas tentativas em que fiquei pelo caminho. Como não dá, por questões econômicas, geográficas, patrióticas e de integridade da carcaça, para ficar repetindo toda hora, fiz questão, no entanto, de não perder o gosto pelos desafios menores, que também têm o seu encanto. Se for pra tentar ser veloz (o que é meio difícil no meu caso), que seja na menor distância possível. Por isso é que não tenho feito muito provas de 10 km, por exemplo. Mas viva a corrida, que nos dá uma gama tão variada de opções e possibilidades no mesmo esporte.

    Parabéns pela sua dupla chegada aos 42 km. E que possamos estar juntos nos próximos desafios desse porte, como estivemos nos dessa temporada.

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  4. Obrigada Passinho!!! É pq é tudo visceralmente sentido. Obrigada!

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